You say goodbye, and I say hello…

•abril 30, 2009 • Deixe um comentário

O Falhas está se mudando. Eu não gosto disso, porque é uma maneira certa de perder leitores e, além disso, é chato redirecionar as pessoas. Mas me irritei com algumas limitações (inexistentes no Blogger) que fui encontrando enquanto usava o WordPress. Esses motivos e outros assuntos vão ser comentados num momento mais oportuno. Agora o que interessa é redirecionar, então, aí vai o link:

http://falhasperfeitas.blogspot.com/

E, sem stress, não vai haver retrocesso algum em nenhum aspecto, tanto conteúdo (o mais importante) quanto na estética do blog. Tradução: eu estou arrumando a casa. Se quiser comentar, falar que achou estúpida a idéia de mudar o sistema, ótima essa idéia porque você também se irritou com o WordPress, ou qualquer outra coisa, sinta-se livre para comentar no outro endereço.

Outro ponto que nunca é demais ressaltar: estou mudando meu site para outro subdomínio, portanto não atualizarei mais este.

Chegou a hora de apagar a luz e fechar a porta deste lugar.

Click!

Fiel Amor

•abril 13, 2009 • Deixe um comentário

Sempre fui muito apaixonada. Porém tive apenas um grande amor em minha vida, chamado Fernandes da Silva de Magalhães. Grande figura, com um sorriso inconfundível e charme que dava gosto de ver. O conheci durante um jantar na casa de um casal de amigos e de cara adorei o modo como me tratava. Comunicativo, me apresentou seu primo, num dos momentos em que mais gostei de ambos. Excelente o primo também, chamado Luis da Costa Neto de Gonzáles. Este último era gente fina, e nos vimos durante mais cinco tardes divinas além de uma noite fantástica na qual fomos ao teatro. Conosco veio um casal de moços: Jacó de Quevedo Neto e sua noiva, Maria. Jacó era espetacular, e assim que Luis resolveu que estava tarde, oferecendo cordialmente uma carona a Maria até sua casa, eu e o noivo puxamos uma ótima conversa. Lembro que na manhã seguinte estava passeando e tive a surpresa de encontrar Fernandes e uma amiga. Este me tratou de um modo estranho, olhando com jeito de nojo. Senti-me bastante desconfortável. Despedi-me deles assim que pude. Mal vi que eles se afastavam e virei para o lado, junto ao ouvido de Jacó, e perguntei:

– Teu irmão está com algum problema?

Palpita a pitada

•março 31, 2009 • Deixe um comentário

O intocável toque

da tua palma que palpita

é vida vermelha.

Palpita o sangue

na pitada de amor

que arde

embaixo da pele.

Medo

•março 24, 2009 • Deixe um comentário

Em meio a escuridão, ela aparentava paz. Estendida sobre a cama, olhos cerrados, pernas cruzadas e uma suave expressão no rosto. Seu mundo funcionava em separado da pulsante cidade lá fora. Poucos, entretanto, compreendem a difícil tarefa que enfrentava em seu interior. Procurando convencer a si mesma de que estava segura, repetia mentalmente: “Só crianças acreditam em monstros”. Seu esforço para manter-se concentrava lhe aparentava vão; retornavam e passavam como um flash-back as imagens que temia.

Abria os olhos, amedrontada. Só para sentir-se estúpida. Não temia durante o dia, na luz. A falta dela era o que envocava o infundado temor. Não conseguia compreender a falta de coragem e de segurança. Tudo o que ela mais queria é que aquilo fosse embora…

Janela – Parte 4 (Final)

•março 20, 2009 • Deixe um comentário

Toquei o piso, e de vez em quando o batia. Queria escutar o quão perto deveria estar de sair de lá, mesmo doendo perceber que poderia ser apenas um buraco pequeno; não sabia bem como reconhecer a profundidade pelo som… Peguei minha colher e passei em volta da lajota na qual batia. Tentava coloca-la de modo a poder levanta-la depois. Talvez cavando chegasse lá. Um buraco pequeno ou um túnel… Não havia o que perder agora, a não ser minha própria vida. Estremeci com o pensamento. Tirei um pouco da tinta e da argamassa ao redor da lajota, e continuei cavando. Seria dia ou noite agora? Não sabia ao certo. Fui até a janela, que jazia exatamente no mesmo lugar. A nesga de luz estava sumindo. O sol devia estar se pondo.

Voltei ao ponto oco do piso e continuei cavando. Perdi a noção do tempo, mas a fome e a sede me corroíam como ácido, passando pela minha garganta e chegando a meu estômago. Quando havia chegado a tirar boa parte do entorno da lajota, a pequena nesga de luz havia sumido completamente. Me deitei para descansar um pouco. Minha cabeça girava de fome, sede, medo e preocupação misturados em um caldeirão da brancura enlouquecedora da sala. Não queria ver mais aquele clarão estúpido. Fechei meus olhos, mas ainda via o branco, impresso no meu pensamento. Em algum momento depois disso, adormeci.

Acordei sobressaltada, com minha testa molhada e a boca tão seca que já não me saia a voz. Recordei quanto tempo fazia que não falava. Não precisava conversar comigo mesma, e imaginava que esse era o caminho mais curto para a iminente loucura que a sala proporcionava. Olhei minha tentativa de escape no chão, e parecia pequena e inútil perto da grande rachadura de onde saiam as formigas. Voltei à lajota e botei a colher logo abaixo dela. Tentei fazer uma alavanca, mas ela era muito pesada. Depois de, suponho, uma hora ali sentada, senti que o piso estava se soltando. Devagar, mas eu estava chegando mais perto. Renovei meu ânimo, e apesar da terrível dor de cabeça e irritação, fui capaz de cavar por cerca de duas horas. Me senti extremamente fraca depois disso. Minha cabeça ficou leve e senti que ia desmaiar. Me mantive por alguns minutos e continuei tentando segurar firme o pedaço de prato. A última coisa que vi antes de cair foi a colher quebrada coberta de formigas e muito, muito branco.

Mal conseguia me mover quando voltei a consciência. Lentamente, virei a cabeça para o lado do oco no chão. Foi então que vi algo impressionante. Não impossível, pois depois da janela, nada era impossível. O meu pedaço de prato era agora uma torta. Na torta, havia meia duzia de formigas e muito gracê. Era maravilhosa. “Agora estou delirando?” – pensei tentando levantar. Toquei-o e tive um choque de realidade. Meu dedo saiu molhado por uma pequena nuvem de glacê, a qual engoli sem nem checar se nela haviam formigas. Não importava, pois era bom demais. Abocanhei o resto dela, tirando uma que outra formiga e lambendo os dedos o tempo todo. Me sentia melhor, ao menos parecia ser real para mim. Na verdade, não precisava ser de verdade. Era bom; e estava ali pra mim. Voltei ao trabalho, agora com mais atenção. Botei a mão embaixo da laje, pois agora iria cavar com as mãos. Preço justo a pagar. Foi então que puxei a lajota. E olhei ela sair.

Parei por um tempo. Estava realizada. Com medo, sede (ainda mais que antes), dor… mas realizada. Tomei a laje nas mãos e depois dei uma olhada dentro do buraco. Era fundíssimo e minha alegria aumentava mais e mais. Dei um adeus silencioso a minha clausura. Parei com o olhar na janela trancada. Fui até ela e sorri, pensando que nunca mais veria algo tão estúpido, lindo e maldito. De dentro dela, vinha uma nesga de sol, de vida e um ar puro que aproveitei. Não olhei mais para trás, então. Peguei minha colher quebrada, o resto da minha vontade de viver e entrei num buraco escuríssimo e assustador. Provavalmente pra nunca mais voltar, seja lá o que houvesse do outro lado do caminho.

Janela – Parte 3

•março 16, 2009 • Deixe um comentário

Bastava daquilo. O lugar era cada vez mais apertado e estranho. Surreal. O tempo parecia parado, e cada soluço aparentava quebrar a obscura perfeição daquela sala. Se continuasse lá, enlouqueceria. Teria que respirar e manter a calma. Era mais fácil perder o controle pensando no assunto. Levantei e olhei para os lados, sem saber o que estava procurando. Andando de um lado a outro, prestei atenção em meus passos. A minha necessidade de distração era insuportável. Ritmado, fazia toc, toc, toc… tum. Tum? Fechei os olhos, concentrando, e pisei no mesmo lugar. Tum. Ao ouvir o som novamente, abaixei e puz a orelha em cima do piso. Eu podia ver meu reflexo. Estava vermelha e meus olhos tinham um desespero interno ainda fresco. Respirei e bati no piso de novo. Tum, tum, tum. Era impossível não ouvir o eco, que me soou como a salvação. Pulei sobre o ponto oco do piso, várias e várias vezes. Nada aconteceu. Sentei para tentar pensar mais claramente. Arejando a cabeça, me libertei daqueles terríveis pensamentos sobre a sala e me senti bem. Observei que as formigas haviam voltado a entrar e sair da janela. Acompanhei com os olhos o caminho, para dentro e para fora da rachadura no chão. Andei até ela. Ao parar na frente da fenda, um brilho me cegou, e logo cessou. Cobri os olhos e depois voltei a olhar para a rachadura, que ia ficando mais estreita até acabar perto da parede. O brilho veio de dentro dela, logo percebi. Estendi minha mão lá e encontrei um pedaço de porcelana; provavelmente um prato antigo. Não podia ter sido o prato a me cegar. Ele mal refletia. Olhei novamente dentro da fenda e vi que havia algo mais. Me esforçando para chegar ao fundo, senti algo frio e retrai o braço. Não podia ver onde botava a mão; poderia ser perigoso. Pensando melhor, o que tinha a perder? Indo ainda mais fundo, trouxe agora à superfície uma colher de prata, trabalhada e em perfeitas condições. “Ótimo” – pensei – “agora posso servir a sopa…”.

Janela – Parte 2

•março 13, 2009 • Deixe um comentário

Procurei um trinco e nada encontrei. Olhando com cuidado, vi uma nesga de luz que vinha de dentro da madeira. Teria de tirar aquele vidro e a madeira da frente e enxergar o que havia entre os dois lados daquela janela. Mas, se o fizesse, arruinaria a peça. Além do mais, não recordava bem como havia chegado ali. Me ocorreu que poderia ser um sonho, mas aparentava real demais, detalhado demais. Olhando em volta, me senti mal, com uma claustrofobia crescente. Só agora notava que necessitava sair. Tinha que ter chegado de algum modo. E lá estava a janela.

Observei a linda peça de madeira uma última vez. Joguei, então, a cadeira na direção dela, o mais forte que pude. Ao olhar o vidro, um arranhão agora zombava do meu esforço, e a estrutura não havia sequer tremido. As apavoradas formigas corriam desnorteadas para longe da abertura. Largando a perna que restara da cadeira, cai ao chão observando o quão fraca eu era diante da estranha estrutura a qual eu enfrentava. Encarava então o meu fim, trancada diante de algo fisicamente impossível. Um soluço ficou preso na minha garganta e as lágrimas rolavam, pingando no chão perfeitamente alvo. Levantei e soquei, inutilmente, o insistente e zombeteiro vidro, o amaldiçoando com toda a fibra do meu ser.

Janela – Parte 1

•março 12, 2009 • Deixe um comentário

Suspensa por um fio invisível, há logo a minha frente uma janela. Ela é feita de uma madeira macia e escura que parece sem peso, parada no ar sem apoio de uma parede. A cadeira onde estou sentada, num primeiro momento, é desconfortável; de maneira que me levanto. Intrigada com a janela, vou à ela e observo seu entorno, com belos detalhes de aparência antiga. De repente, noto uma formiga acima dela, toda preta e um tanto perdida. A presença dela me faz sentir aflita; onde ela estava deveria haver um tijolo, uma sustentação para a estrutura de madeira. Pondo meu dedo próximo a ela, levei-a ao chão. Agora percebia a brancura do chão onde pisava, refletivo como um espelho aos meus pés. A pequena formiga corria para uma rachadura profunda que profanava o lindo piso. Saindo dela, havia uma fila de insetos pretos que subia em direção à janela. Me perguntava como não os havia notado antes, sendo que subiam pela parede que não estava lá. Por um furo, iam e voltavam pontinhos pretos através da madeira, alguns com folhas verdes de grama bem maiores que eles mesmos. Fiz a volta na estrutura que flutuava, e a frente era idêntica às costas; não iam a lugar nenhum os insetos. Tentei puxar as portas e elas não abriram. Temi tentar novamente: e se desabasse? Não teria coragem de quebrar algo tão antigo, belo e misterioso.

Nascimento – Parte 3 (Final)

•março 9, 2009 • Deixe um comentário

Primeira vista

“Não precisa me olhar como se eu fosse uma estranha aqui dentro. Há mais de 20 como eu, só aqui nessa sala. Além do mais, estou exausta. A luz é muito forte, e todo mundo está tão chateado quanto eu.” reclama o interior da pequenina do quarto 230, ao observar o interessado olhar das pessoas que passam no corredor. A enfermeira a segura gentilmente e caminha com ela pelo corredor em direção ao quarto 208, do outro lado. Havia macas pelo corredor, como também mulheres com enormes barrigas e outras coisas assustadoras aos olhos tão puros da menina. A porta do 208 se abre e podemos ver uma bela mulher com um sorriso estampado no rosto. A seu lado, a horda de familiares e amigos se delicia com o momento tão bonito da reunião da filha e sua progenitora. Quisera a pequena também entendesse esse encontro. A surpresa passou pela sua mente quando reconheceu a voz que lhe cumprimentava: “Oi Linda…”. Desejava ardentemente compreender o calor e o afeto que sentiu pela mulher a sua frente. Era tão parecida com as enfermeiras que lhe tocaram e lhe falaram desde que viu a luz pela primeira vez, mas era muito diferente de qualquer outra coisa ao mesmo tempo. Era a única coisa que lhe importava naquele momento e ela sabia muito bem o que deveria fazer para o resto de sua vida: amá-la.

Nascimento – Parte 2

•março 8, 2009 • Deixe um comentário

Trauma

O silêncio ri do meu medo e meu universo preparasse para cair sobre mim. O tremor se inicia e para só para voltar e me dar outro susto. Não quero ir a lugar algum; muito pelo contrário. Escuto estranhos sons e quero mais tempo. Mais da paz que experimentei pelos últimos meses. Sou muito pequena, fraca demais… Aqui me sinto completa.

Uma leve nesga de luz penetra e toca a cabeçinha vermelha que agora sente o ar, e a falta dele. “Deixem-me voltar…” pensa antes de iniciar um choro compulsivo. O choro do ser que ainda não tem palavras para dizer a todos: ainda não.